Acórdão nº 261/18.9GEBRG-A.G1 de Tribunal da Relação de Guimarães, 29 de Abril de 2019

Magistrado ResponsávelCLARISSE GON
Data da Resolução29 de Abril de 2019
EmissorTribunal da Relação de Guimarães

Acordam, em conferência, os Juízes da Secção Penal do Tribunal da Relação de Guimarães I. RELATÓRIO - 1.

No presente processo com o nº 261/18.9GEBRG-A, que corre termos no Tribunal Judicial da Comarca de Braga, pelo Juízo de Instrução Criminal de Braga – Juiz 1, foi, por despacho datado de 24.01.2019, e ao que ora nos interessa, por extemporânea, indeferida a constituição como assistente de A. B., quanto aos factos suscetíveis de integrar a prática pelo denunciado crime de injúria, ocorridos em 20/06/2018.

- 2.

Não se conformando com “a decisão proferida, que não a admitiu a intervir nos autos como assistente quanto aos factos que, em abstrato, configuram a prática de um crime de natureza particular”, A. B. interpôs o presente recurso, formulando as seguintes Conclusões (transcrição):

  1. Entende a recorrente que o requerimento que apresentou para a constituição de assistentes foi oportuno e tempestivo, devendo admitir-se a sua intervenção como assistentes, mesmo quanto aos factos que configuram a prática de um crime de natureza particular.

  2. A apresentação da queixa foi feita na GNR de Braga e, nem nessa altura, nem posteriormente foi transmitido à recorrente que os factos que participou têm, em concreto, natureza particular.

  3. Da notificação efectuada pelo órgão de polícia criminal que: “Tratando-se de procedimento dependente de acusação particular, o requerimento tem lugar no prazo de 10 dias (artigo 68, nº. 2 do CPP) a contar da presente notificação” e “O denunciante pode declarar, na denúncia, que deseja constituir-se assistente. Tratando-se de crime cujo procedimento depende de acusação particular, a declaração é obrigatória (artº. 246º, nº. 4 do CPP) sob pena de os autos serem arquivados”.

  4. O artº. 68º, nº. 2 do C.P.P. dispõe, quanto ao requerimento para a constituição de assistente que “tratando-se de procedimento dependente de acusação particular, o requerimento tem lugar no prazo de 10 dias a contar da advertência referida no nº. 4 do artº. 246º”.

  5. Este artº. 246º, nº. 4 do C.P.C., inegavelmente indissociável ao artº. 68º, nº. 2, dispões que “o denunciante pode declarar, na denúncia, que deseja constituir-se assistente. Tratando-se de crime cujo procedimento depende de acusação particular, a declaração é obrigatória, devendo, neste caso, a autoridade judiciária ou o órgão de polícia criminal a quem a denúncia for feita verbalmente advertir o denunciante da obrigatoriedade de se constituir assistente e dos procedimentos a observar”.

  6. A notificação feita à recorrente e que consta dos autos a fls. 8 não se trata de qualquer advertência à aqui recorrente da obrigatoriedade de se constituir assistente, dados os factos denunciados configurarem um crime de natureza particular, nem refere a cominação da falta dessa constituição como assistente.

  7. A advertência referida no nº. 4 do artº. 246º do C.P.C. não foi efectuada de forma clara e expressa à recorrente que compreendeu que teriam um prazo de 10 dias para se constituir assistente (“fazer um requerimento”) após a notificação constante daquele nº. 4, que viesse a ser-lhe feita.

  8. O prazo fixado no artº. 68º, nº. 2 está necessariamente interligado à notificação do artº. 246º, nº. 4, o que significa que no caso de estarmos perante um crime de natureza particular, o prazo de 10 dias para efectuar o requerimento de constituição de assistente só se inicia com o cumprimento do dever de informação e advertência da denunciante, referido naquele nº. 4 do artº. 246º do C.P.P, o que, “in casu”, não se verificou.

  9. O prazo de 10 dias para a constituição de assistente só se inicia após notificação com a advertência constante do artº. 246º, nº. 4 do C.P.P., ou seja, com a notificação que informe da obrigatoriedade de constituição de assistente e dos procedimentos a adoptar em caso de estarmos concretamente perante um crime de natureza particular.

  10. A notificação de fls. 8 apenas refere a obrigatoriedade de declarar na queixa que deseja constituir-se assistente, caso o crime revista natureza particular, sendo que, volta a repetir-se, jamais foi comunicado à recorrente que o crime participado reveste natureza particular, e que, por essa razão, teria que declarar a sua pretensão em constituir-se assistente e requerer a sua efectiva constituição como assistente no prazo de 10 dias.

  11. Por não lhe ter sido advertido desconhecia a recorrente a obrigatoriedade da declaração da constituição de assistente e a própria constituição de assistente.

  12. À recorrente não lhe foi comunicada a natureza do crime, pelo que, não conseguiu alcançar, como legalmente se impunha, a natureza do prazo e o início da sua contagem.

  13. Não tinha a recorrente obrigação de saber ou conhecer que os factos participados se enquadravam num crime de natureza particular, pelo que, sempre teria de ser notificada de tal facto, como claramente impõe o nº. 4 do artº. 246º do...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT