Acórdão nº 4372/15.4T8CBR.C1 de Court of Appeal of Coimbra (Portugal), 28 de Junho de 2016

Magistrado ResponsávelFONTE RAMOS
Data da Resolução28 de Junho de 2016
EmissorCourt of Appeal of Coimbra (Portugal)

Acordam no Tribunal da Relação de Coimbra: I. Declarada a insolvência de C (…) (por sentença de 22.5.2015), elaborado o relatório a que alude o art.º 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas/CIRE[1] (aprovado pelo DL n.º 53/2004, de 18.3, e na redacção conferida pela Lei n.º 16/2012, de 20.4) e tendo sido liminarmente admitido o incidente de exoneração do passivo restante requerido pelo devedor (por decisão de 01.12.2015)[2], o Fundo de Garantia Automóvel (FGA)[3], invocando o disposto no art.º 245º, n.º 2, alínea b), pediu que o Tribunal se pronunciasse sobre a inclusão ou exclusão do respectivo crédito no âmbito da exoneração (fls. 96 verso).

Por despacho de 23.02.2016, o Tribunal a quo considerou que o crédito indemnizatório do FGA, resultante da sub-rogação legal prevista no art.º 54º, n.º 1, do DL n.º 291/2007, de 21.8 (decorrente de acidente de viação causado por negligência), não se encontra abrangido pela exclusão do art.º 245º, n.º 2, al. c), pelo que integra o âmbito da exoneração.

Inconformado, pugnando pela exclusão do seu crédito dos efeitos da exoneração, o FGA interpôs a presente apelação formulando as conclusões que assim vão sintetizadas: 1ª - É negligente a conduta do condutor do veículo causador do acidente de viação, mas é dolosa a conduta do proprietário/detentor que não contrata seguro para o seu veículo.

2ª - O insolvente era o condutor na ocasião do acidente, mas também o proprietário do veículo sem seguro! 3ª - Agiu dolosamente ao não contratar seguro automóvel para o seu veículo.

4ª - A sentença de condenação solidária, proferida no âmbito do Processo Comum de Tribunal Colectivo n.º 165/10.3GDCNT, confirmada pelo acórdão da RC menciona expressamente que “O arguido também não tinha procedido à transferência do registo de propriedade atempadamente, não tinha seguro de responsabilidade civil obrigatório e não tinha sujeitado o veículo à inspecção obrigatória”.

(Facto Provado VIII – pág. 4) 5ª - O insolvente foi ali responsabilizado a título de dolo, por não ter contratado seguro.

6ª - É jurisprudencialmente assente que a inexistência de seguro válido e eficaz, sendo que o SORCA tem natureza obrigatória na legislação portuguesa, determina a responsabilidade civil extracontratual por factos ilícitos do proprietário do veículo.

7ª - O crédito do FGA não pode ser abrangido pela exoneração do passivo restante, pois decorre de facto ilícito (al. b) do n.º 2 do art.º 245º do CIRE).

Não houve resposta à alegação de recurso.

Atento o referido acervo conclusivo, delimitativo do objecto do recurso, importa decidir, apenas, se o crédito do FGA se enquadra na previsão da alínea b) do n.º 2 do art.º 245º do CIRE.

* II. 1. Para a decisão do recurso releva o que se descreve no antecedente relatório e, ainda, o seguinte:[4] a) No dia 17.7.2010 o insolvente interveio num acidente de viação que...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT